Os Jogos Olímpicos deixam sempre imagens que ficam na memória, sobretudo nos momentos de victoria e de glória. É a epopeia do desporto ao mais alto nível. Mas o evento desportivo mais importante do planeta também deixa instantâneos curiosos. Em Paris 2024, uma delas será o emblema do umbigo usado pela atleta chinesa Yang Jiayu, recém-coroada campeã olímpica na exigente corrida feminina de 20 km a pé.
Depois de uma corrida espetacular, a caminheira chinesa, que desafiou as suas rivais mais próximas no quilómetro 5 da corrida e partiu sozinha em busca da cobiçada medalha de ouro, fez um tempo de 1 hora 25 minutos e 54 segundos. Numa prova em que a atleta espanhola María Pérez também brilhou, conquistando a medalha de prata com o tempo de 1 hora 26 minutos e 19 segundos.
Foto: RTVE Play.
A verdade é que não se trata de algo novo, pois esta última tendência de muitas atletas orientais do sexo feminino, que correm em provas de estrada, já foi vista e causou muito impacto nos últimos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 e em competições relevantes posteriores. Um pormenor curioso que a atleta chinesa Yang Jiayu voltou a trazer à ribalta.
Esta prática, que tem atraído a atenção de adeptos e especialistas, tem gerado uma especulação interminável sobre os seus possíveis benefícios e origens: será uma inovação científica revolucionária, um ritual ou simplesmente uma moda passageira? Neste artigo da RUNNEA Magazine, analisamos em pormenor os vários aspectos desta tendência intrigante.
Embora seja difícil determinar exatamente quando é que a tendência começou, apenas alguns corredores de elite, principalmente do Japão e da Coreia do Sul, foram vistos a usar estes adesivos. No entanto, a prática espalhou-se rapidamente entre os atletas da China, Singapura e outros países da Ásia Oriental.
A comunidade atlética internacional reagiu de várias formas a esta tendência de correr com um penso no umbigo. Enquanto alguns treinadores e atletas ocidentais a consideram uma excentricidade sem base científica, outros estão intrigados e abertos à experimentação.
Várias equipas de investigação em fisiologia desportiva iniciaram estudos para determinar se existe algum benefício mensurável na utilização destes adesivos. Até à data, os resultados preliminares não revelaram vantagens significativas, mas a investigação continua.
Também é verdade que na medicina tradicional chinesa e noutras práticas orientais, a prática de cobrir o umbigo durante uma corrida de estrada encontra a sua ligação em várias tradições orientais de energia e cura. Em particular, a teoria dos chakras, originária da Índia mas amplamente difundida no Oriente, oferece uma abordagem muito interessante a esta tendência atlética.
De acordo com esta teoria, o umbigo não é apenas uma cicatriz de nascimento, mas um ponto crucial no fluxo de energia do corpo. É conhecido como o chakra do plexo solar ou Manipura, e é considerado o terceiro chakra principal do sistema energético humano. Este chakra está associado ao poder pessoal, à vontade e à vitalidade.
Na tradição taoísta chinesa, existe um conceito semelhante conhecido como "órbita microcósmica". Esta órbita representa o fluxo de energia vital ou "qi" através do corpo. O umbigo é considerado um ponto-chave nesta órbita, onde a energia inicia e completa o seu ciclo. Os adeptos das artes marciais e de disciplinas mais energéticas como o Qi Gong concentram-se frequentemente nesta área para cultivar e direcionar a sua energia interna.
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Vamos a isso!Nesta perspetiva, a utilização de pensos para o umbigo pelos atletas pode ser interpretada como uma tentativa de proteger e fortalecer este centro de energia crucial. A crença subjacente é que, ao cobrir o umbigo, os corredores podem obter estes benefícios:
Existem ainda outros aspectos que estão associados a benefícios psicológicos, tais como:
Embora estas ideias possam parecer esotéricas de uma perspetiva científica ocidental, é importante lembrar que muitas práticas desportivas modernas incorporam elementos de tradições antigas. O ioga e a meditação, por exemplo, ganharam aceitação no treino de atletas de elite em todo o mundo.
Foto: RTVE Play.
Os atletas que adoptaram a prática de correr com o umbigo tapado apresentam várias explicações:
A este respeito, e como exemplo, a antiga medalha de bronze espanhola e medalha de bronze em Sydney 2000, Maria Vasco, declarou publicamente que:
"Costumava competir com uma pedra de cor vermelha que usava no sacro, com um cinto preso com fita adesiva. Eu fazia cromoterapia, trabalhava com cores, e competia com uma pedra vermelha.
As revelações de Vasco revelam a diversidade de métodos que os atletas de topo estão dispostos a explorar em busca de uma vantagem competitiva. A cromoterapia, também conhecida como terapia das cores, é uma prática alternativa que atribui propriedades curativas ou energéticas a diferentes cores.
No caso do Vasco, a escolha da cor vermelha é particularmente interessante. Na cromoterapia, o vermelho é frequentemente associado à energia, à força e à vitalidade. Além disso, em muitas tradições orientais, a cor vermelha está ligada ao primeiro chakra ou chakra da raiz, que se acredita governar a sobrevivência, a estabilidade e a ligação à terra - todos elementos cruciais para um corredor de longa distância.
Seja como for, é difícil estabelecer uma correlação direta entre a utilização de pensos umbilicais e a melhoria do desempenho. No entanto, é inegável que vários atletas orientais que adoptaram esta prática obtiveram grandes resultados em várias competições. O exemplo mais claro é a medalha de ouro conquistada pela atleta chinesa Yang Jiayu na caminhada feminina de 20 km.
Como era, estanova tendência não está isenta de controvérsia. Alguns críticos argumentam que os adesivos podem estar a esconder dispositivos ilegais de melhoria do desempenho. Em resposta, várias organizações desportivas implementaram inspecções adicionais para garantir que os emblemas não contêm elementos proibidos.
Até à data, nenhum organismo internacional oficial do atletismo lançou as bases para uma regulamentação sobre esta questão; e, como é óbvio, a utilização destes pensos umbilicais não é proibida, considerando-os como parte do equipamento pessoal do atleta, à semelhança das fitas cinesiológicas ou das almofadas térmicas.
Quer se trate de uma moda passageira ou do início de uma nova era no equipamento dos atletas de elite, o fenómeno dos pensos umbilicais entre os corredores orientais de elite acrescentou um elemento de mistério e debate ao mundo do atletismo de estrada. Embora os cientistas continuem a investigar os seus potenciais benefícios, esta tendência recorda-nos que, no desporto de alta competição, a inovação e a tradição se entrelaçam frequentemente de formas que não conseguimos imaginar e, acima de tudo, que consideramos difíceis de compreender.
É evidente que só o tempo dirá se esta prática se estenderá a outras regiões ou mesmo a outras modalidades desportivas, ou se continuará a ser uma curiosidade na história do atletismo. Para já, continua a ser um tema aberto ao debate, mas que desafia as nossas percepções do corpo humano e do desempenho atlético.
Foto de abertura: ©Dan Vernon in Worlds Athletics
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