Cada estação traz consigo o lançamento de novos modelos de sapatilhas running e, com eles, preços que levantam as sobrancelhas de mais do que um corredor. Atualmente, num novo boom de running, não é raro encontrar modelos que ultrapassam os 250 euros. Um preço que, para alguns corredores, pode ser justificável devido às inovações e tecnologias prometidas pelas marcas, mas que, para outros, começa a raiar o absurdo. Mas o que está realmente a acontecer no mercado sapatilhas de running: estamos a pagar por uma tecnologia revolucionária ou por uma tendência de subida de preços sustentada pelo marketing e pela moda?
A indústria running argumenta, entre outras coisas, que os aumentos de preços são sustentados por avanços tecnológicos que transformam o desempenho e a experiência dos corredores. Espumas como a ZoomX Nike, a espuma FuelCell New Balance ou placas de fibra de carbono que facilitam a propulsão são alguns dos avanços que surgiram no mercado nos últimos anos, prometendo melhorar a eficiência da corrida e reduzir o impacto nas articulações.
A investigação confirma grande parte desta promessa: certos materiais e construções podem melhorar a economia de corrida, permitindo aos atletas manter velocidades mais elevadas com menos esforço. O exemplo mais notório foi o lançamento do Vaporfly Nike, com o qual corredores de elite estabeleceram recordes em corridas de longa distância e que foi o ponto de partida para todas as grandes marcas seguirem o exemplo. No entanto, o que acontece quando estas tecnologias são transferidas para os corredores populares, e será que a despesa faz sentido para aqueles que não estão à procura de desempenho ao mais alto nível?
No meio deste contexto, o mercado assistiu ao aparecimento de uma gama média na faixa dos 100-120 euros, que conseguiu posicionar-se como uma alternativa razoável entre a tecnologia de alto desempenho e o preço. Modelos como o Nike Pegasus 41, o adidas Supernova Rise, o New Balance Fuelcell Propel v4 ou o Joma R2000, entre outros, oferecem tecnologias avançadas sem recorrer a espumas de elite ou placas de carbono. São sapatilhas que proporcionam uma experiência de corrida sólida, com materiais duráveis e amortecimento optimizado, e que se adequam ao corredor popular sem exigir um preço de elite.
Este segmento de gama média adaptou-se às necessidades de quem procura calçado de qualidade para o treino quotidiano, onde o conforto, a durabilidade e o amortecimento suficiente permitem percorrer longas distâncias sem comprometer o bolso. E embora tenham deixado para trás os preços de 70-80 euros que eram comuns há alguns anos, mantiveram um balance que justifica o gasto para aqueles que não estão à procura de um desempenho extremo, mas valorizam a relação qualidade-preço.
É fácil ficar alarmado com o facto de um sapatilha de running custar tanto como uma raquete de padel ou um par de botas de basquetebol, e as comparações não tardam a surgir. No entanto, a análise mostra que o aumento do preço do equipamento não é exclusivo da running. Em desportos como o ciclismo, por exemplo, o investimento em bicicletas, capacetes e vestuário técnico excede largamente o de qualquer corredor. No esqui, um conjunto completo de equipamento, desde as botas aos esquis e ao equipamento de proteção, tem um custo elevado que nem todos podem pagar. Mesmo nos desportos colectivos, como o futebol ou o basquetebol, o custo de um equipamento de qualidade pode aumentar com a sua renovação periódica, mesmo que as gamas acessíveis mantenham a sua qualidade.
No entanto, parece inegável que as grandes marcas running aproveitaram a crescente popularidade do desporto e orientaram parte da sua estratégia para uma segmentação que raia a exclusividade. As edições limitadas, os modelos concebidos em colaboração com corredores de elite e as inovações materiais deixaram de ser uma novidade e tornaram-se a norma. Atualmente, as marcas podem oferecer várias versões do mesmo modelo, cada uma orientada para um tipo diferente de corredor e com uma gama de preços tão ampla que pode ultrapassar o preço de uma 300.
De certa forma, esta estratégia consegue apelar a todos os perfis de utilizadores, desde o corredor casual ao fanático da alta tecnologia, disposto a pagar para experimentar a última inovação. Mas até que ponto isto é uma necessidade do mercado e até que ponto é uma tática para justificar a escalada dos preços? Esta é uma questão legítima que merece uma análise aprofundada.
Um fator que se infiltrou no running quase sem nos apercebermos é a moda. as sapatilhas deixaram de ser apenas uma ferramenta funcional para se tornarem um símbolo de estatuto e estilo. As colaborações de designers, as cores sazonais e as edições especiais acrescentam um valor simbólico que, sem dúvida, faz subir o preço, e isto é evidente no running. Cada vez mais, os corredores valorizam a estética tanto quanto a tecnologia e, neste sentido, running seguiu uma tendência semelhante à sneakers de moda, em que o design exclusivo e a marca aumentam o preço sem oferecer necessariamente um melhor desempenho de corrida. Basta perguntar a marcas como a Hoka ou On, cujo hype está agora no auge.
Um aspeto real e quantificável é o aumento dos custos de produção. Na sequência da pandemia, os preços dos materiais e os custos logísticos aumentaram fortemente, afectando a indústria do desporto no seu conjunto. Num relatório da McKinsey, estima-se que os preços dos transportes marítimos e o custo das matérias-primas, como a borracha EVA, tenham aumentado 15-25%, o que teve impacto no preço final dos sapatilhas de running e de outros produtos desportivos.
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Vamos a isso!O preço das sapatilhas de running subiu, sim, mas o mercado também cresceu em opções para atender a diferentes tipos de corredores e necessidades. Desde modelos topo de gama que levam a inovação a níveis extremos, a uma gama média que continua a oferecer qualidade e durabilidade sem custos excessivos. O verdadeiro desafio, num mercado tão vasto e segmentado, é encontrar o modelo que justifique a despesa em função da utilização efectiva que lhe será dada.
Em última análise, o corredor tem na sua mão a possibilidade de comparar e, talvez, o preço elevado seja um apelo para analisar se está a comprar uma ferramenta de desempenho ou simplesmente a seguir a corrente de uma indústria que sabe criar desejo. Seja como for, o importante é correr - com as sapatilhas que melhor se adaptam a si e ao que realmente precisa.
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