Banda iliotibial: um mistério intrigante prestes a ser resolvido

Publicado em 03-09-2015

Para muitos, é o epicentro de uma lesão incómoda e dolorosa, mas para Carolyn Eng, a banda iliotibial é um mistério intrigante que ela pode estar prestes a resolver. A estudante de doutoramento da Universidade de Harvard é a primeira autora de dois estudos que analisam a forma como a banda iliotibial (ITB) armazena e liberta energia elástica para nos fazer andar e correr de forma mais eficiente. Ambos os estudos, que envolvem outras cinco pessoas, são descritos em pormenor em novos artigos publicados no Journal of Experimental Biology e no Journal of Biomechanics.

O estudo recente descobriu que a banda iliotibial humana tem a capacidade de armazenar 15 a 20 vezes mais energia elástica em comparação com a estrutura precursora, como a de um chimpanzé. Os autores do estudo prestaram atenção à capacidade de armazenamento de energia da corrida e descobriram que esta é substancialmente maior quando se corre do que quando se caminha. Isto deve-se em parte ao facto de a corrida ser uma forma muito mais elástica de andar.

O que os descobridores desta recente descoberta não sabem é se a banda iliotibial evoluiu para a corrida ou para a marcha. Pensam que pode ter evoluído inicialmente para a marcha e mais tarde evoluiu novamente para desenvolver um papel mais importante, como a corrida.

Evolução e adaptação para a corrida

A banda iliotibial é constituída por um tecido conjuntivo elástico chamado fáscia, que percorre o comprimento da parte externa da coxa e se insere desde a anca até abaixo do joelho. Embora seja frequentemente comparada com os tendões - ambos podem ter funções semelhantes - a fáscia é constituída por uma espécie de grandes folhas, enquanto os tendões são mais parecidos com cordas. "A fáscia é uma espécie de bainha que envolve os músculos, liga os músculos ao osso e compartimenta os músculos com uma função semelhante, e a banda iliotibial é o maior pedaço de fáscia em todo o corpo humano", explica Eng.

O conhecimento recente de que a banda iliotibial actua como uma mola para ajudar na locomoção vai contra a crença de longa data de que a sua função principal é estabilizar a anca durante a marcha.

Ao contrário de muitos médicos e anatomistas, este grupo de investigadores pensou na evolução e na forma como os seres humanos se adaptaram não só à marcha, mas também à corrida, pelo que decidiram olhar para a banda iliotibial de uma perspetiva totalmente diferente.

Poupar e armazenar energia elástica

Quando observaram a diferença entre um chimpanzé e um ser humano, viram esta grande banda elástica e a ideia imediata que lhes ocorreu foi que a banda iliotibial tinha alguma semelhança com outra estrutura elástica, como o tendão de Aquiles, que poderia ser importante para poupar energia durante a locomoção, especialmente quando correm.

Os resultados serão de importância fundamental para a ciência básica e para os estudos clínicos que procuram integrar o papel desta estrutura fascial nos programas de treino e reabilitação desportiva.

Para compreender o papel que a banda iliotibial desempenha na locomoção, os investigadores desenvolveram um modelo informático para estimar a sua extensão e, por extensão, a quantidade de energia que armazena, durante a marcha e a corrida.

Uma parte da banda iliotibial que se estica quando o membro oscila para trás, armazenando energia elástica. Essa energia armazenada é depois libertada quando a perna se move para a frente durante a passada, resultando em poupança de energia.

Para o futuro, os investigadores esperam alargar o seu estudo para explorar a forma como uma melhor compreensão da banda iliotibial pode ajudar os atletas a prevenir ou tratar lesões. A síndrome da banda iliotibial é uma lesão dolorosa que afecta muitos corredores e ciclistas, mas a sua causa subjacente é desconhecida. Por isso, um dos próximos passos é, utilizando os modelos informáticos que Calrolyn Eng desenvolveu, estimar a força que a banda iliotibial transmite em corredores com e sem dor na banda iliotibial. Estes estudos poderão ajudar a estabelecer uma base científica para o tratamento de atletas com lesões da banda iliotibial.

Foto da capa: Athletico.com

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