Para muitos de vós, a época está prestes a começar e começam a preparar-se e a comprar o material; aqueles sapatos fantásticos que nos vão fazer voar ou que nos dão o máximo amortecimento, aquela camisola térmica para nos mantermos quentes no inverno, o monitor de frequência cardíaca.... Dedicámos muito tempo, dinheiro e entusiasmo ao material que vamos utilizar. É claro que isso nos ajudará a melhorar e a atingir o nosso objetivo.
Equipamento mental
E no que diz respeito ao nosso "equipamento mental", o que preparámos, o que vamos fazer para garantir o nosso melhor desempenho nas provas em que participamos? Já parámos para pensar nos obstáculos, no tempo e nos sacrifícios que temos de fazer durante a época que se aproxima, em todos os meses de treino que temos pela frente?
Eu sei, eu sei que muitas pessoas pensam que a "parte mental" não é necessária. Que o que importa é suar e correr. Claro que é. Mas o que se calhar não sabem é que podem dar mais, muito mais.
E é por isso que hoje vou falar sobre a importância do "material mental" para os desportistas de elite, os desportistas olímpicos.
O exemplo dos desportistas profissionais
Os atletas olímpicos representam a elite do desporto. Uma medalha olímpica é a maior aspiração de um atleta. Têm o melhor equipamento, os melhores treinadores, trabalham com objectivos perfeitamente planeados e conhecem muito bem os limites do seu corpo e até onde podem ir e o que podem alcançar. É suficiente? Não. Para isso, o material mental é essencial, porque anos de treino estão em jogo numa prova, em poucos minutos de competição e têm de dar o seu melhor. Vejamos alguns casos.
Carolina Martín, badminton
Carolina Marín: medalha de ouro em badminton. Chegou à final como número um do ranking mundial. Jogou a final contra a indiana Pusarla, a número dez. O primeiro set foi ganho pela indiana, por 19-21. Tinha conseguido o que mais ninguém tinha conseguido: tinha conseguido desconcentrar a campeã do mundo.
Carolina Marin deixou de jogar como é seu hábito e os erros sucederam-se. Perdeu o equilíbrio mental e a confiança no seu jogo. Até que, durante um intervalo, o seu treinador lhe disse: "Lembra-te do que viemos fazer aqui; lembra-te do que sabemos fazer; concentra-te". Concentrou-se e voltou a jogar da forma que sabe. Ganhou os dois sets seguintes e conquistou a medalha de ouro.
O seu treinador, Juan Carlos Alvarez, diz claramente: "Um atleta pode estar ao mais alto nível técnico, físico e tático, mas isso não garante o máximo rendimento. Se no dia da competição se acorda cansado, ou com um problema pessoal a pairar sobre a cabeça ou um desconforto físico, mesmo que pequeno... estes pequenos pormenores tornam-se muito importantes. Os campos químicos gerados no cérebro por estes pensamentos são transferidos para o corpo, gerando stress, rigidez muscular e, em casos extremos, bloqueios.
Miguel Ángel López, 20KM de caminhada
Tenho a certeza de que o que acabo de dizer parece exagerado para mais do que uma pessoa. Claro que, como é o vosso treinador, ele terá algo a dizer. Pois bem, vamos rever o que aconteceu na corrida a pé de 20 km, com Miguel Angel López.
Miguel Angel López: a priori, um dos medalhados "certos" da equipa olímpica espanhola. Chegou aos Jogos Olímpicos na máxima força, depois de ter sido campeão europeu e mundial. Terminou em décimo primeiro lugar.
A entrevista que lhe foi concedida após o evento é relevante:
Estava demasiado calor?
- Não, estava um vento ligeiro.
A lesão que teve?
- Não, nos testes que fizemos eu estava no limite.
Muita humidade, muito frio?
- Não.....
Então porque é que não ganhou uma medalha?
- Porque não consegui; o corpo não puxa e pronto....
Um atleta que está no seu melhor, que acabou de ganhar o Campeonato da Europa e o Campeonato do Mundo, falha nos Jogos Olímpicos. O mesmo caminhante que diz que fisicamente estava perfeito. A sua força mental, a sua concentração... não estavam com ele.
Joel González, taekwondo
Medalha de bronze. Na meia-final, entrou a coxear no tatami com um joelho magoado. Tinha-se preparado muito bem para os combates que esperava ter com o mexicano Gutiérrez e com o coreano Lee no seu camino para a medalha. Não conseguiu nenhuma delas....
Fisicamente, não estava no seu melhor e as tácticas que tinha ensaiado nos treinos não funcionaram, pois não estava à altura dos adversários previstos. Apesar de tudo isto, ainda conseguiu ganhar a medalha de bronze. É preciso ter uma força mental incrível para o conseguir.
Estes três casos são muito representativos da influência do equilíbrio e da força mental no desporto. E a sua força de vontade permitiu-lhes dar o seu melhor, mesmo para além do que os seus corpos lhes permitiam fazer.
Trabalhar a resistência mental
Já disse pessoalmente a muitos clientes durante as sessões: trabalhar a resistência mental não o vai fazer deixar de treinar arduamente, fazer as suas séries, corridas longas, colinas, cuidar da sua dieta, descansar, etc. .... Mas pode ajudá-lo a certificar-se de que todo o trabalho árduo que dedicou ao treino ao longo do ano se reflecte no dia da competição. Que dá o máximo daquilo de que é capaz. Porque seria uma pena se todo o trabalho de tantos meses fosse desperdiçado ou se desse menos do que podia.
E agora vem a pergunta: como é que eu consigo ter força de vontade para dar o meu melhor numa competição? Como é que eu controlo os meus nervos no dia de uma competição? No próximo artigo, falaremos de truques para dar o seu melhor no dia da prova.
Aitor Loizaga. Treinador. - www.coachingsinlimites.es - @aloizagacoach