Quantas maratonas pode correr por ano?

Publicado em 05-12-2013

Yuki Kawauchi é um funcionário público japonês que trabalha numa escola pública a cerca de 50 km de Tóquio e que se está a tornar conhecido entre aqueles de entre nós que seguem as grandes maratonas internacionais.

A sua grande paixão, como a de muitos dos seus compatriotas, é a corrida, especialmente a maratona, que é uma religião naquele país. Antes ou depois do seu trabalho diário, treina com as suas séries, corridas longas e até corridas nas montanhas, em princípio como qualquer outro corredor popular.

O que distingue este atleta de todos os outros, o que o tornou mundialmente famoso e admirado, é o facto de desafiar todas as leis e regras relativas a esta disciplina: em 2012 correu 10 maratonas com resultados extraordinários (venceu em 6) e em 2013 mais 11, atingindo marcas de atleta de elite, ligando prova após prova, oscilando em torno das 2h10m.

Este é um caso extremo e único de um atleta que correu 2 maratonas numa quinzena com tempos de 2h09m e 2h12m.

Existem muitos outros atletas que, movidos por diferentes motivações, também correm esta distância várias vezes por ano, e até temos o conhecido exemplo do grande Ricardo Abad que, entre muitos outros desafios, conseguiu completar 500 maratonas em 500 dias consecutivos.

Mas, deixando de lado os atletas verdadeiramente extraordinários e fora do comum, quantas maratonas podemos correr em pleno por ano?

Se partirmos do princípio de que a preparação específica para esta corrida dura normalmente pelo menos 10 semanas, às quais se juntam mais algumas semanas de trabalho geral (em que se podem preparar corridas mais curtas) e o descanso obrigatório pós-corrida, isso significa que cada período de maratona nos ocupa entre 15 e 18 semanas. Se fizermos as contas, parece claro que poderíamos correr um máximo de 3 por ano, mas tendo em conta, entre outras variáveis que veremos mais adiante, que para encaixar este terceiro objetivo teremos provavelmente de esquecer outros, e mesmo nesse caso os prazos são demasiado apertados. Na realidade, o mais aconselhável seria preparar 2 de tal forma que, para além de os termos bem separados na época, nos desse tempo para acrescentar mais objectivos como meias maratonas, corridas populares, cross, etc... que também contribuiriam positivamente para a obtenção das marcas pretendidas nas provas de maratona.

E se as corrermos até ao fim....

Estamos a falar do caso do atleta que, independentemente das suas 2h30m, 3h30m ou 5h, vai tentar corrê-las no seu melhor, procurando um melhor tempo ou, pelo menos, o melhor tempo a que pode aspirar em função das circunstâncias que rodearam a sua preparação. Um caso diferente é o do atleta que liga muitas maratonas com o objetivo de terminar, desfrutar do ambiente ou conhecer novos lugares sem ser pressionado pelo cronómetro, que tem uma filosofia diferente e cuja motivação é bastante diferente, embora igualmente louvável.

E porque é que não se pode fazer uma maratona completa de 2 em 2 meses ou menos? A preparação em si tem um desgaste físico e psicológico muito importante, ainda mais do que a própria corrida, a maratona é o culminar de todo o trabalho anterior, porque investimos muito tempo e energia concentrando todos os nossos esforços e virando-nos para tentar alcançar esse objetivo.

"A parte mais difícil da maratona é a preparação".

Muitos corredores sofrem nas semanas seguintes à corrida um esgotamento geral, ficaram "vazios" e não têm corpo nem cabeça para grandes esforços, nem sequer para pensar neles. Foram semanas de acumulação de quilómetros, de corridas longas, de séries e de colinas, de corridas de recuperação e de corridas duras, de dias bons e maus, melhores e piores com chuva, frio ou calor, encaixando muitas peças para conseguir o tempo necessário para treinar, sessões de treino em que passámos da euforia de um dia bom à desmoralização absoluta no dia seguinte, de grandes sacrifícios,... de viver cansado.

Porque é que é importante dosear?

Tudo isto tem necessariamente o seu preço, por muito bem que a corrida tenha corrido, mesmo que tenhamos melhorado o nosso desempenho e mesmo que tenhamos tido uma boa sensação até ao último quilómetro da corrida. Mesmo que alguns dias depois pensemos que recuperámos bem, não é esse o caso. Há sempre excepções e todos conhecemos atletas populares que queimam imediatamente sapatilha, mas se esta prova especial foi preparada com cuidado, com um bom planeamento e foi corrida ao máximo, na maioria dos casos precisaremos de algumas semanas (até 3 ou 4, segundo muitos treinadores e médicos desportivos) para podermos começar a treinar com uma certa normalidade em termos de intensidade, níveis de força e motivação, embora esta última seja mais relativa e dependa de cada indivíduo.

Se quisermos continuar a competir em maratonas durante muitos anos, temos de nos dosear e escolhê-las bem para nos podermos preparar para elas nas melhores condições, mas se dermos prioridade à quantidade, não sem esforço e sacrifício, as coisas mudam completamente.

  • E quantas maratonas gosta de preparar por ano?

Foto: Brooks

Leia mais notícias sobre: